quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Capítulo 3...Em nome do pai

Desde a morte de Guiorggio, há uma semana, que Jota Carlos não saía do quarto do hotel. As investigações se arrastavam e ele ainda não estava liberado para deixar a cidade ou o país. Sequer poderia ir ao vaticano, por ser um estado independente da Itália. A dor dos parentes e amigos e a expressão serena do colega romano ño caixão não lhe saíam da cabeça. recebia as refeições no quarto e não abria sequer as correspondências que se acumulavam na portaria do Hotel. Nenhum funcionário ousava infringir a ordem deixada na maçaneta do quarto: "não incomode". Mas a campainha tocou pela primeira vez depois de tantos dias. Jota Carlos só se comunicava com a redação do jornal em que trabalhava no Brasil por e-mails. Nem o telefone o incomodara naqueles dias de exílio voluntário. A barba por fazer e as feições carregadas foram expostas ao abrir a porta. Era Giulia. A mulher que transformara a vida de Giorggio e que estava desaparecida desde a sua morte estava também desfigurada pela dor. As olheiras e as feições marcadas pela dor fizeram Jota Carlos reagir rápido ao recebê-la no quarto.

- Giulia, entra. Te procurei no funeral e não te vi. Temia por você. Onde você estava? A polícia te encontrou?

- Não, Jota. Tive medo.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem.


Ao ver Jota Carlos se aproximando, Constansa elevou os olhos e abriu os braços como para um filho:

-Carlos, mataram meu bambino

Aos 82 anos a mulher trazia no rosto e no corpo o peso da perda irremediável. Em nada lembrava a mulher forte que o recebeu em casa há poucas semanas, para um almoço com toda a imensa família. A morte de Giorggio lhe pesava na alma bem mais que os quase cem anos vividos até ali. Jota não conseguiu dizer uma só palavra. Apertou a mulher nos braços e chorou com ela. Seguiram-se as condolências. Eram três dos sete irmãos de Giorggio a acompanhar a mãe. Sem contar outros parentes e vizinhos que já providenciavam os funerais.

E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões até ao juízo daquele dia...


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Jota Carlos teve uma noite quase insone. As imagens do amigo morto atormentaram-lhe durante toda a madrugada. Não foram raras as vezes que os pesadelos o assombraram e o sacudiram na cama. Pouco antes das cinco e meia já estava de pé. Não era essa a sua rotina. Por esta razão não encondia na face a noite mal dormida. Se apressou no banho e tomou apenas um gole de café, deixando rapidamente o hotel. Precisava chegar rápido ao Departamento Médico Legal de Roma, para levar solidariedade e conforto aos familiares de Giorggio. Também precisava falar com Giulia. O tráfego estava livre e logo seu taxi cortou a cidade até o DML. Logo na entrada do antigo prédio viu uma aglomeração de jornalistas. Uns à procura de informações. Outros,colegas de Giorggio, inconformados com a morte do mais importante repórter do jornal na cobertura política e do Vaticano. Também foi fácil identificar Constansa. Mãe de Giorrgio e matriarca de uma família marcada por perdas durante a ditadura de Musolini e na Segunda Guerra.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara, e também me foi dito: Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu altar e os que naquele adoram;


...........................Capítulo 3.............E por três vezes o galo cantará

O corpo de Giorggio já havia sido removido. A polícia fora embora. Jota Carlos se viu sozinho, sem roupas e em outro quarto, pois o seu estava lacrado. Só restava a ele a solidão de sua dor e suas perguntas sem respostas. Além do medo que o dominara como nunca havia sentido, sua cabeça pulsava como uma dor latente e contínua. Do frigobar quase tudo havia consumido. Só sobraram duas miniaturas de burbom e três pedras de gelo. Foi então que se lembrou de Giullia. Mas já estava cansado demais para procurá-la, ou mesmo telefornar. Se virou para o lado e dormiu.

havia um Anjo Poderoso (o qual era Cristo) desceu e colocou um pé sobre a terra e um sobre o mar, e levantou Sua mão, e disse: “O dia está terminado.


Jota Carlos precisava ganhar tempo. Não comentaria nada sobre a carta. Não por enquanto. Não até que tivesse certeza de que era o melhor a fazer. Cecou o rosto e voltou para o quarto, onde o chefe de investigações e o consul brasileiro lhe aguardavam.

-Muito bem senhor Jota Carlos, o senhor tem alguma idéia de quem possa ter feito isso com Giorggio? algum inimigo, ameaça?

-Não senhor. Nem imagino. Era um homem bom. Querido por todos. Não consigo imaginar as razões para tal brutalidade.

-Por que no seu quarto?

-Tínhamos um encontro. Iríamos conversar sudo sobre a morte do santo padre. Coisas de trabalho. Ele, como eu, estava perplexo com tudo isso.

- A que horas o senhor deixou o hotel, onde e com quem esteve?

O depoimento se arrastou por duas horas. Apesar do desgaste emocional natural a estas situações, Jota Carlos suportou bem a maratona de perguntas a que foi forçado a responder. A dor da perda do amigo, no entanto, o deixara exasto.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar, a besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará,

Jota Carlos tinha que raciocinar rápido. Enquanto lavava o rosto buscava em si as respostas para tantas questões lembrava da carta que, até aquele instante apenas ne parecia uma obra de algum gaiato. Mas as mortes do Papa e de seu melhor amigo faziam com que suas idéias, mesmo embaralhadas, se voltassem apenas para aquela folha de papel, escrita à mão e em português. Em português. Só agora este fato lhe saltara. Giorggio chegou a pensar que fora ele quem a enviou. E não estava convencido do contrário até aquele dia. Giorggio? A polícia tinha descoberto sua existência? e se já sabiam da carta? e se soubessem que ele tinha conhecimento dela? Quem matou seu amigo sabia que ele estaria no hotel. Portanto, Jota Carlos se tornara uma vítima em potencial.

e o seu cadáver ficará estirado na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado.


Giorggio foi degolado com uma corda de piano. O aço ainda estava no entorno de seu pescoço e sob a pele embebida em sangue. Por toda a sua volta uma imensa poça de sangue. O olhar doce do amigo se transformara em um súplico por oxigênio. O corpo ainda estava quente. Jota Carlos se apoiou no policial que o conduzia para não cair. Estava tomado de náuzeas e dor. Não conseguia se manter de pé e dobrou os joelhos até apoiá-los no chão. O grito não saiu de sua garganta. Apenas um rumor. Não conseguia crer no que via. E foi com este sentimento que foi conduzido pelo policial para outro quarto, onde lhe aguardavam o consul brasileiro na Itália e o chefe de investigações da polícia italiana.

-Jota Carlos, como está? Você quer um advogado? disse Márcio Moreira Cunha, o mais antigo membro da diplomacia brasileira ém Roma.

-Estou bem, obrigado. Que horror houve aqui? quem fez isto? Porque?

-Estas são as respostas que buscamos senhor, disse o chefe de investigações.

-Preciso ir ao banheiro, por favor.

-Pode ir
Jota Carlos não tinha idéia do que dizer ao policial. Tudo estava confuso e tomado de dor. Alguns minutos no banheiro, sozinho, seriam fundamentais naquele momento.